Com as condições econômicas brasileiras atualmente favoráveis graças ao crescimento do PIB e à redução progressiva da taxa de juros, os investidores têm no mercado de renda variável uma ampla oportunidade de setores, onde investir poderá ser um bom negócio. Especialistas acreditam que segmentos ligados ao consumo terão protagonismo na tomada de decisões.
A superintendente de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Myriã Bast, faz uma análise conjuntural positiva da economia baseada em um dado pouco observado por especialistas e investidores. “Quando pensamos em crescimento econômico, temos um cenário no Brasil bem positivo: um crescimento superior a 2%. Porém, alguns dirão que em outros anos foi perto de 3%. A diferença é que os momentos eram distintos”, declarou.
Myriã explica que no ano passado, por exemplo, houve um grande impulso do agro no resultado do PIB. Neste ano, o setor não teve a mesma participação, mas os demais setores cresceram o suficiente para manter o resultado atual. “É um resultado muito endógeno, em que a economia cresce com as próprias pernas”, acrescenta.
Esse “novo” crescimento, segundo a superintendente, vem sendo puxado pelo consumo das famílias, fazendo com que os investimentos que tiveram um resultado ruim no ano anterior possam se reverter positivamente. “Os números podem ser menores, mas a sensação de crescimento está mais forte este ano”, pondera a especialista.
Desafios à vista
Apesar do cenário positivo, alguns desafios precisam ser considerados. Com a economia globalizada, as decisões no Brasil podem ficar mais atreladas ao que acontece lá fora. Em linhas gerais, juros altos em economias fortes atraem o investidor para esse mercado, um desafio para países emergentes.
A perspectiva é que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central norte-americano, adie o corte dos juros básicos. A alta das taxas de juros nos títulos do governo americano estimula a busca por proteção e retornos mais altos, o que pressiona tanto o dólar quanto a Bolsa de emergentes.
"A pressão sobre os mercados globais sobre o início da redução das taxas de juros americanos pode afetar os investimentos aqui no Brasil de forma indireta”, avalia Myriã.
Adicionalmente, a recente enchente no Rio Grande do Sul trouxe desafios novos à economia, especialmente no setor agrícola. Os efeitos serão importantes na região e afetarão o crescimento brasileiro como um todo. Assim, o PIB não deve chegar a 2,5% neste ano.
Exposto o atual momento econômico, investidores precisam estar atentos aos setores que terão melhor performance futura. “As principais opções de renda variável são aquelas mais expostas ao consumo como o varejo, serviços – seja de saúde, ou turismo – e telecomunicações”, elenca.
Na questão do varejo, Myriã aponta um dado adicional. “Além da renda sustentando o varejo, nós temos a oferta de crédito. Ou seja, os varejistas mais dependentes de crédito também poderão ter boa performance, como móveis e vestuário, eletrodomésticos e veículos. Já temos visto, inclusive, empresas desses setores aumentando seus investimentos”, aponta.
Outro setor com boa avaliação é o da construção civil. A percepção de que houve um aumento do desejo das famílias em adquirir ou trocar um imóvel torna o segmento atrativo, principalmente por conta das condições mais favoráveis de financiamento.
Mercado otimista
Consolidando as impressões do mercado, Myriã cita o resultado de uma pesquisa feita pelo banco com três mil empresas de todos os setores. “O resultado da última edição nos dá uma mensagem muito clara e importante: os custos percebidos por essas empresas continuam caindo. Quando pensamos na saúde financeira dessas empresas, que estão vendo a demanda aquecida, elas estão financeiramente saudáveis”, avalia.
Mas, diante de bons prognósticos na renda variável, ainda é possível considerar investimentos de renda fixa? Com a taxa de juros ainda elevada, convém não descartá-los. De acordo com as avaliações do Bradesco, há uma previsão de juro terminal ainda elevado neste ano, o que torna a renda fixa ainda atrativa, especialmente com a postergação do Fed na redução das taxas de juros. “Nós vimos, por exemplo, títulos emitidos pelo governo pagando IPCA + 6% de rentabilidade em prazos até 2045”, explica.
Perceber as movimentações do mercado e preparar um mix de investimentos adequado à realidade econômica é a melhor opção para o retorno financeiro do investidor.